Editorial POR DENTRO DO RN

O fechamento das maternidades Leide Morais e Araken Pinto, anunciados pela Prefeitura de Natal sob a justificativa de falta de médicos, marca mais um capítulo do agravamento da crise istrativa na capital potiguar. O impacto da medida, embora comunicado como temporário, tem repercussões diretas na rede pública de saúde e evidencia a desorganização na gestão dos serviços essenciais. A situação se tornou ainda mais crítica com a repetição do fechamento da Leide Morais no sábado (10.mai.2025), após breve reabertura.
A decisão de transferir gestantes para o Hospital Regional Alfredo Mesquita Filho, em Macaíba, município da Região Metropolitana, escancara a ausência de planejamento e contingência dentro da istração municipal de Paulinho Freire (União Brasil). A logística de deslocamento de pacientes em trabalho de parto para outra cidade compromete tanto a segurança das parturientes quanto o funcionamento da rede estadual, que já opera com limitações conhecidas.
Os fechamentos ocorrem em meio a um cenário de denúncias recorrentes de sucateamento de unidades básicas, escassez de insumos e ausência de concursos para reposição de quadros. A política de contingenciamento em vigor na gestão Paulinho Freire resultou na redução progressiva da capacidade de resposta do sistema municipal de saúde.
No discurso oficial, a gestão Paulinho Freire aponta a baixa adesão de profissionais aos plantões como causa principal da interrupção dos serviços. No entanto, o problema é estrutural, refletindo uma política pública ineficaz de manutenção e valorização da rede municipal. O anúncio repentino de fechamento das unidades sem transparência ou alternativas viáveis levanta questionamentos sobre o nível de compromisso com a população atendida nessas regiões.
Além disso, há ausência de respostas efetivas quanto à reabertura das unidades. Sem cronograma claro ou garantias de recomposição das equipes médicas, permanece a insegurança entre as usuárias do sistema público e entre os próprios trabalhadores da saúde. Profissionais têm relatado sobrecarga nos plantões, falta de insumos e desorganização nas escalas — fatores que reforçam a sensação de colapso institucional.
A crise nas maternidades reflete um problema mais amplo de governança. Em meio a esse contexto, a gestão de Paulinho Freire ainda enfrenta denúncias de má gestão em outras áreas da istração pública, incluindo obras paralisadas e um péssimo sistema de transporte público – que foi motivador de Natal ter perdido de sediar jogos da Copa do Mundo Feminina de 2027.
As consequências são sentidas de forma mais aguda pelas mulheres em situação de vulnerabilidade social, que dependem exclusivamente da rede pública. Sem alternativas viáveis de atendimento, muitas acabam adiando procedimentos essenciais por medo ou dificuldade de o.
Enquanto isso, a prefeitura não apresenta medidas estruturantes, nem diálogo com os conselhos municipais de saúde ou com a sociedade civil. A ausência de ações concretas e a inexistência de políticas públicas de médio e longo prazo para a saúde materna agravam ainda mais o cenário.
O fechamento de duas maternidades não é um evento isolado, mas sim o sintoma de uma crise sistêmica que atinge a saúde pública de Natal e, sobretudo, coloca em risco a vida de mulheres e recém-nascidos.
Foto: Divulgação/SMS
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